A DECISÃO ERRADA Todo dia é um dia de pensar em decisões que podem interferir no seu futuro. Compreendo totalmente sobre isso. Se eu fizer uma escolha errada, tudo pode desmoronar ao meu redor. É como um joguinho de “Jenga”. Imagine que sua vida é uma torre de blocos. Cada bloco é uma decisão que você toma. Ao retirar um bloco, a torre fica instável e pode desmoronar. Portanto, uma escolha errada pode fazer tudo ao seu redor desabar, mostrando como nossas decisões são delicadas e importantes. Não importa o que eu faça para tentar consertar algo que não tem volta. É como pegar um caminho onde um terremoto acontece, e abre o chão e me puxa para dentro. Um abismo sem fim, perdido na escuridão das escolhas obrigatórias. *** O senhor quer servir o Exército Brasileiro?, perguntou o militar que começou o interrogatório de perguntas. Sim, quero servir. Sou um voluntário, eu respondi, e ao mesmo tempo o entrevistador anotava minhas respostasresposta em uma folha cheia de perguntas. É uma armadilha, eu devia saber disso. Essa é a maneira perfeita de cair em uma armadilha. Uma vez li em algum lugar, devo ter ouvido de um filme ou de um documentário: Um rato preso em uma armadilha pode roer a própria perna para poder escapar. Essa frase era de um filme com a atriz Rebecca Ferguson. Não sou um rato, mas existe a possibilidade de ter uma armadilha. O grande voluntarismo obrigatório que nós jovens temos que, infelizmente, fazer por nosso país. Em uma das inspeções, vergonhosamente, pedem a você que fique pelado, completamente pelado, para que o médico possa olhar o seu corpo dos pés, pênis e até a sua cabeça, à procura de alguma doença. O médico pede que assopre a palma da mão sem deixar sair o ar, procurando por alguma hérnia. Não tenho nenhuma doença, somente suspeito que tenho bipolaridade, mas não disse sobre essa suspeita, não tenho um diagnóstico. *** Quando estivermos incorporados no Exército Brasileiro, é provável alguém dizer... Parabéns! Agora fique pronto para as mil palestras, o que são instruções militares, sobre as regras que proíbem você de fazer isso e aquilo. Talvez tentem impor medo em nós para que os sargentos sejam vistos como Deuses Respeitáveis. Devem fazer isso no internato. Eles vão transformar cada um de nós, soldados recrutas em cobaias de sargentos e subtenente, até que, um de nós decida desistir sem dar motivos aparentes, apenas desistir. Seria como fazer todos pensarem que foi um acidente surreal. Ele não deu sinal de desistência, diriam. O terceiro sargento Bergmann é um pai para nós, é o que ele mesmo diz, mesmo não gostando. Eu sou como um pai para os senhores, ele dizia. Talvez ele não saiba qual é a definição de "pai" Ele não comeu a minha mãe e me colocou no mundo, e também não me criou quando crescia. Ele não é o meu pai. Não sei como um pai seria para mim, mas não seria o Bergmann, jamais. Pensar nisso me dá repulsa. Os recrutas são todos jovens adultos com a mesma idade. A maldita geração Z, a geração que vivem online conectados à internet, a geração problemática, é um fato. Não temos culpa se a ascensão dos smartphones nasceu em nossa bendita geração. Deveriam culpar os pioneiros de toda a tecnologia que atualmente temos, por estragar uma geração, com todas as palavras. Eram apenas os recrutas que moram em Santa Maria presentes na Base Administrativa de Santa Maria. São quarenta vagas para quarenta recrutas. Por enquanto eram quinze, os de Santa Maria. Eu não sou dessa cidade, estou morando aqui temporariamente. Quando tudo acabar, de maneira definitiva, caso de errado em servir, vou partir para a minha cidade natal, Ijuí. Mais tarde viriam recrutas de outras cidades. Essa seria a semana zero. A semana zero, o início de uma jornada. Uma jornada que estava começando. Vou conhecer gente nova. E todos vão saber o meu nome, ou sobrenome, e o número de recruta. Quero ser lembrado por centenas de anos. Quero estar em arquivos históricos. A história tem que registrar o sobrenome e número. 609 Carvalho. Eu quero ser uma lenda histórica, lembrado para sempre. Quero arquivar tudo o que for dito em minha história. Foda-se o que pensariam a respeito, diria. Internet Archive é o meu amigo. Não pode apagar-me, serei preservado até o fim dos tempos.